sábado, 10 de setembro de 2011

AGOSTO DA AGONIA


Há muito que se fala aqui neste espaço: a cultura oficial de Natal está há léguas de distância do que é, de fato, produzido pelos artistas locais. Só isso explica a iniciativa do governo em dedicar o mês de agosto ao folclore com o objetivo de transformar Natal na “capital nacional do folclore”. Mais um na lista da megalomania potiguar. Batizado toscamente de Agosto da Alegria o que se viu foi uma tentativa – bem intencionada, sim – de movimentar culturalmente a cidade.

Fora a programação musical, uma ‘aula-performance’ do já repetitivo Ariano Suassuana e a vergonha local da tentativa de discussão e exibição do documentário de Walter Carvalho, o Agosto da Alegria passou como uma marolinha, longe da pompa que objetiva seguir. Não inspirou, não produziu, não foi além do que poderia ter chegado. E pior: não movimentou a cultura local. Preserve  as diferenças e fica fácil de constatar que o Festival Agosto de Teatro, descontinuado nessa gestão, contribuiu mais para a cultura natalense do que o evento do governo atual. Deixar de investir em continuidade de coisa que dá certo por ‘birrinha’ com a gestão anterior é um erro comum dos governantes dessa cidade. Vide o falecido Encontro Natalense de Escritores.

O cúmulo do non-sense do Agosto da Alegria foi atingido no último fim de semana. O músico Rodrigo Lacaz, da banda Lunares, foi impedido de tocar músicas em inglês. A produção do evento exigiu que ele tocasse apenas músicas nacionais. A exigência foi feita depois que ele já tinha preparado todo o show. Nada foi combinado anteriormente. O microfone do rapaz chegou a ser desligado e a apresentação, diminuída.  Pelo que relata, uma humilhação pública, sem quês nem por quês. A gestão pública de cultura age, em Natal, com o objetivo de fazer a cidade engolir algo que culturalmente não é.

Não moramos em Recife. A cultura natalense está mais repleta de influências cosmopolitas e contemporâneas do que do tradicional, popular, nordestina como querem enfiar goela abaixo dos artistas. Isso não é mérito nem demérito na cidade. É apenas uma faceta da identidade local, fruto da nossa formação populacional, que tem influências desde a região do Seridó, passando por uma série de estados no Brasil e culminando nos confins dos Estados Unidos e Europa. É só lembrar: Natal tem tradição em quadrinhos, em poema processo e até no rock progressivo com o saudoso Impacto Cinco.


Fonte do texto: Revista 14 Catorze http://revistacatorze.com.br/

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