terça-feira, 10 de julho de 2012

Falta de incentivo ainda é a maior dificuldade do produtor cultural

Produtor Cultural é uma profissão que não é muito conhecida. Em Natal, ela está crescendo, principalmente após a implantação do curso de graduação no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN). “A dúvida sobre essa profissão sempre existiu, até mesmo entre os alunos”, explica Nara Pessoa, coordenadora do curso de ‘Produção Cultural’ no IFRN.
Nara Pessoa, coordenadora do curso de Produção Cultural do IFRN.

 A filosofa Marilena Chauí definiu a palavra ‘cultura’, como: “Posse de certos conhecimentos de línguas, artes, literatura e entre outros”.Isso quer dizer, que a profissão está relacionada com a criação de práticas voltadas para a cultura de uma sociedade. “É o profissional que cuida de toda a parte de planejamento, coordenação e questões legais de eventos e produtos culturais e artísticos”, observa a produtora cultural Yasmim Kyssyanne, que atua na área desde 2008.

Esses eventos culturais e artísticos incluem: peças de teatro, lançamento de filmes no cinema, shows de artistas que vivem da arte, festivais relacionados a expressões artísticas (teatro, dança e música) e entre outros. O produtor vai trabalhar desde a criação da ideia até a execução, além de captar recursos, prestação de serviços, contratar artistas, etc.
“Hoje é imprescindível que um produtor tenha um histórico de comprometimento, realizações bem sucedidas e uma postura ética para continuar com credibilidade no mercado”, diz Kyssyanne.

Além disso, o produtor cultural pode trabalhar como autônomo ou migrar para área de Gestão de Políticas Públicas (através de trabalhos com os órgãos públicos voltados para cultura), marketing e também atuar como consultor de eventos. “A área traz um leque de possibilidades”, sugere a coordenadora do curso do IFRN. A produção de shows e peças teatrais são as vertentes mais trabalhadas pelos produtores culturais de Natal.

Yasmim é estudante de Radialismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), no curso ela já realizou alguns trabalhos na área de produção. “O interesse em trabalhar com produção, de um modo geral, surgiu pelo amor que eu tenho pela música e posteriormente na necessidade de produzir meus próprios eventos e produtos audiovisuais. Quando descobri que não teria talento o suficiente para seguir carreira como instrumentista, comecei a pensar na possibilidade de me tornar produtora por já possuir um perfil de liderança, organização, ter um bom relacionamento com outros profissionais da área e ser completamente apaixonada pelo cenário artístico independente”, disse.

Ela já trabalhou na parte de logística de uma casa noturna e um bar da cidade, na produção executiva de bandas, shows de prévia de carnaval, lançamento de CD e gravação de DVD, operação de áudio em estúdio e alguns curtas-metragens.

Nara Pessoa é de Natal e é formada em Produção Cultural na Universidade Federal Fluminense (UFF). Durante a sua estadia no Rio de Janeiro, ela fez estágio na Fundação Nacional das Artes (Funarte). Quando retornou a sua cidade de origem, fez mestrado em Ciências Sociais e realizou um estudo sobre o Museu Câmara Cascudo. “Quis analisar a cultura em forma de exposição”, explicou.

As duas comentaram que são muitas as dificuldades que esse tipo de produtor vai enfrentar no seu cotidiano, como a captação de recursos financeiros para a realização de eventos culturais e a falta de políticas públicas em algumas cidades e Natal é uma delas.

“Quando a cidade parece que vai dar um passo à frente, no âmbito da cultura, ela não dá. A gente não está vendo resultado”, comentou Nara Pessoa. A professora falou que os gestores deveriam valorizar o artista, visto que alguns têm projetos muito interessantes, e criar mais programas de gestão de políticas públicas voltadas para área.

“Não adianta abrir editais para as pessoas, se não apontam garantias de retorno aos artistas. Falta dar ouvidos aos produtores e à sociedade. Tem que entender que a cultura é essencial e não deve ser vista só como um evento”, desabafou.

Yasmim acredita que não é só o governo que desvaloriza a cultura, mas o público e também a classe empresarial. “Ela ainda é tida como uma área de importância menor, sendo por vezes menosprezada e desvalorizada tanto pela classe empresarial quanto pelo público”, respondeu.

O curso de graduação em Produção Cultural foi criado em 2009 e a primeira turma vai se formar nesse ano. “Um ponto importante [do curso] é mostrar que a cultura não é algo formado por um único elemento”, falou Nara Pessoa.

A coordenadora respondeu que a grade do curso “engloba uma série de atividades” e é voltada tanto para as disciplinas práticas quanto teóricas. Tem matérias sobre sociologia, antropologia, gestão de políticas públicas, teatro, arte, música, administração e entre outras. O curso tem a duração de três anos (seis períodos).

Sobre as condições financeiras, Nara respondeu que um produtor cultural em Natal ainda recebe um pouco abaixo da expectativa do Ministério da Cultura (Minc). O Ministério tem uma tabela que indica os valores justos para se pagar pessoas que estão interligadas às artes. Mas, Pessoa acredita que quanto mais as pessoas conhecerem a profissão, mais os profissionais serão valorizados.

Mesmo com as dificuldades, Yasmim respondeu que a profissão tem as suas vantagens. “Sonhar junto com o artista e contribuir para o sonho tornar-se realidade é uma satisfação inexplicável. Sinto um privilégio imenso em trabalhar com o que gosto e ainda construir bens materiais e imateriais para a sociedade, pois acredito piamente no papel transformador, construtivo, da arte na vida das pessoas”, comentou. 

Fonte: Matéria completa ->  nominuto.com.br

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